Ontem visitámo-nos, para matar saudades, e eu fiquei tão feliz, animada e cheia de contente com o reencontro e as boas novas que, pensando que era leve como uma borboleta, poderia esvoaçar pelas avenidas novas de Lisboa impune, espalhando alegria por todos os seres vivos, mas não, claro que não!; entretida a enviar sms a contar as novidades aos ventos caí logo à saída do prédio do ginecologista, tudo por causa de um passeio que eu juraria que não existia. Poderia até ter dado um mindinho para atestar a minha crença। Ainda bem que não o fiz, obviamente.
Tive uma dor tão grande no pé que, e porque sou fraquinha e dada a estas velaturas, por instantes - muitos ou poucos, não sei - desmaiei. Quando dei por mim estava a acordar nos braços do Porfírio, um jovem transeunte simpático que me acudiu e assustado ligou para o 112. Era um verdadeiro cavaleiro andante; com uma armadura no maxilar de cima e outra no debaixo, outra ainda mais robusta em frente aos olhos - acho que tinha olhos, não posso garantir porque não via nada definido a mais de 50cms - e isto é tudo quanto me lembro, para além das suas insistentes perguntas para me manter acordada: Como se chama o Presidente da República? (Estive quase para lhe responder Ramalho Eanes, só para descontrair, que ele estava mais aflito que eu, ou pelo menos assim parecia.) Em que ano estamos? Consegue dizer Porfírio três vezes? Diga Porfírio três vezes, DIGA!!! (Ninguém diz Porfírio, quanto mais três vezes - pensei, ainda assim disse-o que sou bem mandada)
Num ápice já estava numa ambulância do INEM aos pulos pela Almirante de Reis a pedir que me atassem à maca para não me esborrachar no tecto e que por favor não perdessem os ovários; leia-se os exames - coitadinha, já nem sabia o que dizia, às vezes faço-me mesmo muita peninha, oh deuses! - aqueles que trago sempre comigo naquela pastinha verde que guardo como a minha própria vida há mais de um ano.
Estive horas em S. José numa maca manobrada pelo meu pai (que entretanto chegou avisado pelo Porfírio "O Salvador", devia agradecer-lhe - a ele e à Xana por me manter a pedicure em dia - não sei como, mas pronto, aqui fica um abraço sentido, pode ser que um dia ele descubra este blog) e muito mal manobrada, diga-se, que uma vez até me atirou contra uma parede e à saída não me conseguiu empurrar a cadeirinha de rodas por aquelas sete simpáticas colinas acima, o que não se percebe, pff, afinal eu ontem estava uma verdadeira borboleta, leve levezinha de tanto júbilo e regozijo. Enfim.
Bom, importa é rematar que afinal o pé não está partido, tenho apenas uma rotura de ligamentos, tenho que repousar, usar uma meia elástica, por gelo de hora a hora, tomar mais remédios, andar de muletas...
Oblá! Mas e agora? Ein? Como faço para cuidar deste Minúsculo confinada um par de muletas??
Enfio-me em casa dos meus pais. Com certeza.
E já estou aborrecida, claro, que a minha mãe não me deixa fazer nada : (
Decidi, portanto, que amanhã já estarei fina.