Hoje tive reunião de pais na creche do M. O motivo da reunião prende-se com as alterações impostas pela Segurança Social nas instituições sob a sua tutela. Ou, dito de outra forma, como transformar um infantário cuja obrigação primeira é tratar de crianças, tendo uma componente pedagógica que os oriente num local burocrático, com procedimentos dignos de uma conservatória ou de uma repartição de finanças. Então cá vai:
- A criança deixa de ser designada como utente, passando a ser tratada por cliente. A instituição passa a ter um contrato de prestação de serviços com os pais, assinado em 3 vias.
- Passa a ser obrigatório que a criança tenha nº de identificação fiscal e nº de segurança social.
Para quê? Porque caso haja um acidente, o seguro só paga à instituição se a criança estiver numerada como contribuinte e beneficiário da segurança social.
- Toda a criança tem de ter um caderno A5 onde a educadora responsável escreve o que achar mais relevante:
O bebé precisa de babetes, o bebé fez cocó esverdeado, o bebé não tem fraldas.
Cada recado destes deve ser assinado pela educadora e rubricado pelos pais. O caderno vai e vem todos os dias.
A educadora passa assim a ser uma funcionária administrativa.
Há mais umas quantas medidas idiotas mas estas foram as que retive como mais idiotas.
O mais patético disto tudo é que, apesar do cliente, agora contribuinte e beneficiário ter um ano de idade e frequentar uma escola da Segurança Social, apesar de levar e trazer um caderninho, o cliente M. que vai de carrinho para a escola, não tem uma rampa de acesso para carrinhos na entrada da escola mas sim, 4 degraus.
Porquê ? Porque como a escola é num bairro histórico não está autorizada a ter uma rampa de acesso porque ao que parece "desfeia a fachada".
Outra das particularidades desta escolinha, é que o pagamento mensal tem de ser realizado em dinheiro vivo. Não têm conta bancária porque são uma IPSS e não aceitam cheques porque no passado já tiveram problemas de cheques sem cobertura.
Não me interpretem mal. Eu acho que as creches devem ser inspeccionadas vezes sem conta para que o serviço seja o melhor possível. O que não me parece bem é a incongruência destas medidas quando há outras, muito mais importantes para serem tomadas. Mais ainda, acho que uma educadora de infância tem como missão tratar das crianças e não transforma-se numa burocrata.
